domingo, 4 de outubro de 2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Das flores às dores


No início tudo são flores, não importa o lugar, estar com a pessoa amada é o que de fato interessa. Nessa fase, a inicial, o iconoclasta visita o Museu de Artes, o misantropo participa de festinhas, a patricinha se rende ao pagode e a cult vai ao cinema para assistir Rambo IV, enfim, os gostos se misturam e se tornam um. Contudo, passado o tempo da identificação, em que o casal pensa conhecer um ao outro, é que as verdadeiras personalidades surgem.



Um quer ir ao cinema do shopping, outro ao “Belas Artes”, um quer ir ao concerto, outro ao show de axé, um só come pratos tipicamente brasileiros, outro adora sushi. Entramos na fase seguinte, já não dissimulamos as nossas vontades e gostos. Como sobreviver a essa fase juntos? Podemos pensar em pelo menos dois caminhos, o meio termo e a alternância.



Entre comédia e romance, que tal a comédia-romântica, para substituir o rock pesado e o sertanejo, poderíamos decidir pela música pop, no entanto, qual seria o meio termo entre boate e igreja? Certamente não haveria, ou seja, nem sempre acharíamos um meio termo para as coisas, ou ambientes, nesse caso, o melhor seria ficar em casa e não fazer nada, curtir juntos o tédio.



Talvez, a melhor opção para que um relacionamento possa fluir é mesmo alternância, mas nesse caso a entrega de um ao outro deve ser maior. Seria catastrófico levar a namorada num teatro e ela passar o tempo todo brincando de joguinho no celular, ou levar o namorado numa exposição de Rodin, e este passar apressado pelas obras cronometrando o tempo no relógio, louco para sair correndo.



Ainda poderíamos pensar em lugares que dificilmente traria discórdia. Imaginemos uma pracinha de bairro, passar a tarde contemplando o nada, brincar no coreto, rir, falar bobagem, beijar, lógico, e ter como objeto de admiração apenas o seu par. Seria algo completamente idílico, beirando ao onírico. Daí, continuemos a imaginar, bem no meio do clímax, o homem perguntaria para a sua amada - “querida, quer sorvete?” – ela responderia - “você está louco? Sabe que gosto é de pipoca!” – ele devolveria a gentileza – “nesse calor você quer pipoca, louca é você!” - seria o fim da paz reinante, uma prova de que o lugar pouco importa, as diferenças mais cedo ou mais tarde afloram, o segredo está em como lidar com elas, a busca por um convívio harmonioso, afinal, se estão juntos é porque se amam e se amam, é bom aprender novos estilos de vida.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A hora do TCC






Os alunos de ensino superior, desde os primeiros períodos acadêmicos, começam a sofrer um mal que, invariavelmente, atinge 100 a cada 100 estudantes, a síndrome do pânico de TCC. Os sintomas causados pelo TCC são: mente embaralhada, muita transpiração, pouca inspiração, mania de perseguição e muita sonolência. As conseqüências variam de loucura sazional à morte excessiva de neurônios, ou até o mais grave, loucura permanente com morte de todos os neurônios, um quadro irreversível e incomum, mas que já fez vítimas famosas:




O aluno de jornalismo André Hemétrio de Alcântara, 32, ainda não chegou na pior fase da síndrome, mas como muitas idéias e poucas definições sente que está próximo do inevitável. O estudante é um amante do futebol, se diz atleticano mas desfila pelos corredores da faculdade onde estuda de vascaíno, um ascetismo congênito e degenerativo. Essa paixão tem o conduzido a escrever sobre futebol.

André, que além de estudante é professor de história, planeja usar a antiga coleção de revistas "Placar" do pai para traçar a evolução do futebol, mais precisamente nas categorias de base do Atlético. Ainda falta um bom bucado para o ipatinguense André entrar na pior fase do TCC, mas a confusão mental já é evidente.



O TCC, trabalho de conclusão de curso, permite ao aluno, ao concluir sua pesquisa, viver um dos extremos, o céu ou inferno, a idiotice ou genialidade. O certo é a loucura no percurso.




Leia também "Crítica de cinema" em http://www.jornalismoautocritico2.blogspot.com/

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Re-fricções filosóficas

O que mais me atrai em Hamlet é a tresloucada cena metafórica do “to be, or not to be, that is the question”, a menos piegas das indagações epistemológicas.
Me pergunto se todo o homem (digo homem espécie, ou seja, homem e mulher) no seu âmago não carrega em si essa interrogação, somos, ou estamos?
Ser nos diz sobre algo extremamente enrijecido, algo que é imutável, o que o homem não é. No livro de Êxodos, no capítulo 3, Deus fala a Moisés, “EU SOU O QUE SOU”, mais a frente Ele reforça, explicando como Moisés deveria referir-se a ele, “EU SOU me enviou a vós outros”. Ou seja, a Bíblia diz que apenas um tem a capacidade de ser, e este Um é Deus, ele é imutável, “o mesmo hoje, amanhã e sempre...”
Agora, digamos que os evolucionistas, descrentes, discordem dessa premissa e que com questionamentos antropomórficos duvidem da deidade do Deus bíblico, dessa forma, negando seu caráter imutável. Daí recorremos ao próprio Darwin. Em “A origem das espécies”, Darwin faz um minucioso relato da evolução das espécies, onde por fim chega ao homem, ou seja, há uma transmutação, tirando toda e qualquer idéia de ser, mas reforçando a transição, em síntese, chegamos e estamos na fase humana, porém, podemos evoluir mais, isso, logicamente, no pensamento darwinista.
“Estar” também nos parece algo complicado, por exemplo, seguindo essa lógica, hoje vivenciamos a quebra paradigmática do modelo cristão de sexualidade. Alguém nasce homem, mas resolve transformar-se, nega sua natureza e se torna uma mulher, ou, pseudo-mulher. Se “estamos” podemos estar qualquer coisa, correto? Estaríamos fazendo um silogismo se acatássemos mais essa interrogação positivamente, contudo lembremo-nos que Deus, em Gêneses, criou homem e do homem, a mulher, sem que houvesse um meio termo, ou um extra-termo. Imutáveis, não, não somos, contudo temos uma natureza inerente a nossa espécie e nem mesmo Darwin poderia crer numa evolução do homem que não fosse natural.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Arte e escatologia, fezes é epistemologia


Privadas sujas mal lavadas
Previnem as cuecas e as calcinhas de freadas
Nelas, ricos e pobres, todos sentam
É só uma questão de necessidade
Basta ver nos banheiros espalhados pela cidade
Não há classe quando se caga
Nas filas não sobram vagas
Mijar-se tão pouco, quiçá nas calças
É fétido é podre, ninguém suporta
Mas, para aliviar-se nada disso importa
-

Objeto de adorno para Marcel
Não levou sua arte para o céu
Nada pior que Manzoni, o herético
E sua arte do coco mimético
Transformaram o tal excremento
Dele foi feito um fabuloso invento
Da narrativa suja do Fonseca
Cujos contos fedem mais que merda seca
-

Banheiros à vista,
O lugar da solidão
Compartilho com meu miasma
A dor violenta sem perdão
Me espremo feito grávida
Mas, do contrário, de lá não tiro vida
Apenas a merda processada do alimento que foi um dia

O bom machado

Aquele que corta
Na música, a nota
Não raro denota
Ar retumbante, tercina
Como se fosse minha eterna sina
Se não se faz se ensina
-
O próprio editor
Quando me poda, um malfeitor
Na hierárquia, meu senhor
-
Na escola havia o emblemático
O professor lunático
Nunca me permitia ficar estático
-
Não me esqueço do “empata”
Mesmo atrás da mata
Invadia bem no arremata
-
Militarmente lembrar-se-á o sargento
Agindo feito marido ciumento
Despótico, eternamente rabugento.
-
Sempre haverá o tal…
o velho e bom machado.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Espaço público na privada

Desde a última terça-feira as duas maiores emissoras de televisão do Brasil, Globo e Record, resolveram lavar a roupa suja no ar. Como pano de fundo para as denúncias está mais que evidente que a briga pela audiência é que determina os rumos dessa guerra televisiva.

O embate começou com a Rede Globo ao exibir no Jornal Nacional do último dia 11 uma reportagem de aproximadamente dez minutos que incriminava o Bispo Edir Macedo, lider na Igreja Universal e presidente do Grupo Record, por lavagem de dinheiro. Segundo a reportagem, o Bispo usaria a TV para lavar o dinheiro arrecadado pelos fiéis da igreja.

Um dia depois veio o troco no Jornal da Record com uma matéria de quase 15 minutos apresentando o passado sujo da emissora carioca. A principal denúncia é de que a Globo teria sido aliada do governo militar durante a ditadura e que por isso se absteve na campanha "Diretas Já".

Anne Paiva, estudante de comunicação social, disse que é telespectadora assídua da Rede Globo, mas que nem por isso deixa de perceber que a emissora carioca é quem tem provocado o embate, segundo ela, por medo de perder audiencia.

"É uma tremenda bobagem", assim classificou Ubiratã Teixeira, diagramador do Jornal Aqui, a briga entre as principais emissoras da TV brasileira.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A velha história da dominação


A dominação, segundo Max Weber, se dá por três vias, legal, tradicional e carismática. Na última quinta-feira, dia 13, no jogo Atlético e Palmeiras, pudemos comprovar que Weber ainda não foi ultrapassado (tampouco será), muito pelo contrário, a práxis é weberiana.
No houve teórico que ousasse se opor a dominação hegemônica de São Paulo sobre Minas Gerais, trata-se de uma tradição.
O penálti que o Atletico não converteu não foi mais por incompetência do atacante do que por trapaça do goleiro palmeirense. Este saltou no mínimo uns dois metros em direção a bola (antes que fosse cobrada a penalidade), o que seria, em outras hipóteses, invalidada a cobrança e repetida.
Contudo lembremo-nos, existe uma tradição futebolística, em dúbio, pró São Paulo, afinal, eis nosso dominador.